Lembra-te do dia de sábado para o santificares. Trabalharás seis dias e farás a tua obra, mas o sétimo dia é o dia do descanso, consagrado ao Eterno, ao Senhor teu Deus. Não farás obra alguma nesse dia, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu gado, nem teu hóspede, o estrangeiro que estiver dentro dos muros de tuas cidades.
Este mandamento, a que foi dado o cunho religioso, é uma lei inteiramente civil e de utilidade humanitária, que teve de ser imposta aos Hebreus, a fim de domar neles o pendor para o abuso do poder.
A do trabalho é uma lei necessária à humanidade. É pelo trabalho que ela progride, que adquire ou repara. Mas o repouso não é menos indispensável, assim ao corpo, como ao Espírito.
Dizer aos homens: Daí ao vosso corpo tempo de refazer suas forças, dai ao vosso Espírito ensejo de se libertar dos cuidados da matéria, a fim de que possa elevar-se para o seu Criador e afastar- se da Terra que o retém cativo, a fim de se alcandorar, por meio da esperança e da meditação, às esferas elevadas que o aguardam, não teria bastado. E ainda agora seria bastante?
Havia, nesse mandamento, um sentimento profundo de filantropia, que os homens não souberam apreciar. Os povos antigos, dados todos aos abusos da força, tinham, todos eles, escravos encarregados dos mais rudes trabalhos. Não se fazia mister assegurar a estes um repouso necessário, tornando isso uma obrigação para seus senhores? Os animais, votados ao desprezo, porque tidos como carentes de alma, de inteligência, considerados como coisas, como incapazes mesmo da sensação de dor, teriam sido, sem esse mandamento, levados, pelo excesso de trabalho, a extrema fadiga, as raças se teriam esgotado e as mais úteis ao homem desapareceriam da superfície da terra, por efeito da degenerescência.
Quanto ao estrangeiro que, considerado hóspede, devia ser respeitado, se o mandamento o não atingisse, provavelmente se teria visto oprimido, no dia de sábado, por todos os trabalhos de que cumpria se abstivessem os fiéis. E violada estaria a hospitalidade, lei santa que os antigos geralmente respeitavam.
Notai que em todos os cultos se vos depara essa salvaguarda da saúde pelo repouso.
Hoje, ó bem-amados, nós vos dizemos: Trabalhai, trabalhai, com coragem e zelo, porém, não ultrapasseis nunca os limites das vossas forças. Guardai e fazei guardar o sábado, não por puerilidade, mas porque a razão vos diz que necessitais de descanso um dia ou outro. Tomai-o quando dele sentirdes séria necessidade. Sobretudo, jamais sobrecarregueis de trabalho os vossos inferiores e respeitai o repouso do gado.
Os Hebreus levavam tão longe a observância do sábado, que a própria terra repousava, não no sétimo dia, mas no sétimo ano. Este método, que parecerá infantil aos modernos agricultores, tinha, no entanto, sua razão de ser. Sendo menos numerosos os homens, menores as necessidades, possível era dar-se à terra o luxo de um repouso que lhe permitia readquirir forças naturalmente, sem o recurso a artifícios, cujo abuso gera muitas das enfermidades de que padeceis, sem lhes descobrirdes as verdadeiras causas. Os rebanhos encontravam pastagens nas terras que repousavam e a presença deles ali bastava para restituir ao solo os sais necessários à reprodução dos vegetais. Isto, porém, sai do quadro dos nossos trabalhos.
Terminando, nós vos dizemos, como Jesus e com Jesus: “O sábado foi feito para o homem, não o homem para o sábado.” Nunca esqueçais estas palavras do Mestre e ponde as em prática tais quais vos foram explicadas, em espírito e verdade, no comentário sobre os Evangelhos. (Ver: Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, reunidos e harmonizados, 1 tomo, n. 82, págs. 428-431 e 2o tomo, n. 155, págs. 259-263).
Em seguida a este Mandamento se lê: “Porquanto, o Eterno, o Senhor, fez, em seis dias, os céus, a terra e o mar e tudo o que está neles e descansou no sétimo dia. Eis porque o Eterno, o Senhor, abençoou o dia do repouso e o santificou.
Há nestas palavras um comentário acrescentado à lei por Moisés, a fim de lhe dar mais força e valor aos olhos dos homens. Elas resumem as explicações que ele deu ao povo, para que este compreendesse a necessidade do descanso que se lhe prescrevia. Tão necessário era este, que Deus o impusera a si mesmo.
Falando a homens pouco adiantados, Moisés usava da linguagem que lhes era possível compreender. E ele próprio, conquanto versado nas ciências e mistérios egípcios, não possuía, como encarnado, os conhecimentos que depois o trabalho dos séculos desenvolveu.
Pode conciliar-se o que Moisés, por essas palavras, disse de Deus e da Criação com o que atualmente se conhece e está assente, tanto pela ciência humana, quanto pela revelação e pela ciência espíritas?
É inútil tentá-lo. Moisés, interpretando, como o fez, o mandamento do descanso e dando-lhe origem tão augusta, não teve outra intenção além da de gravar mais profundamente, no coração dos Hebreus, o respeito àquela lei.
A criação ele a dividiu em seis épocas e não dias e o fez, não por efeito de pesquisas científicas, mas sempre com o mesmo objetivo. O Mandamento que, reclamado pelas necessidades humanas; impunha o repouso septenário, protegia os fracos. E Moisés obrigou os fortes a se lhe submeterem.
É então impossível toda explicação entre os sábios e os padres, com o fim de conciliarem o texto relativo às seis épocas com os dados atuais da ciência humana?
Impossível, com efeito, pois que a própria ciência não tem sobre isso a última palavra.
Os cataclismos que hão ocasionado as transformações do vosso planeta ainda a Ciência os não pode calcular, tanto mais quando, tendo sido parciais, muitas vezes fizeram passar de uma parte para outra os elementos de produção. Ainda não chegastes ao termo deles. Muitos, parciais a princípio, depois gerais, virão a produzir-se, derrocando o estado atual, para destruir o princípio material e levar o planeta terreno ao ponto de partida, isto é, ao estado fluídico, mas em que os fluidos se acharão expurgados de todas as moléculas materiais.
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